Jovens reformadores!

O capítulo 18 das Contituições do nosso fundador foi escolhido para reflexão esse ano. O capítulo 18 é o capítulo sobre a reforma, ou melhor, sobre o reformador.
Não é uma reflexão geral sobre a reforma, mas sobre quem deve operar a reforma. Este capítulo foi escrito aos barnabitas, e escolhê-lo para vocês, laicos, e laicos jovens, é um belo desafio! Espero que nós, padres, sejamos capazes de acolher este desafio.
Hoje, venho falar a vocês, jovens. Os jovens são, por natureza, reformadores. Se não os são, significa que algo não está funcionando!
O papa Francisco confia nesse espírito reformador dos jovens, mas isso não começou com ele. O Concílio Vaticano II já havia enviado uma carta a todos os jovens e São Joao Paulo II deu início à JMJ!
O fato é que muitos têm medo dos jovens, especialmente dos jovens que possuem vontade de reformar!
O capítulo 18 se refere primeiramente aos padres barnabitas. Mas tambêm podemos lê-lo para os colaboradores laicos e para as Angélicas. Assim, penso que devem se perguntar: «O quanto vocês jovens das nossas comunidades ajudam a nós, barnabitas, a caminhar na reforma? O quanto e como vocês nos ajudam a colocar em pauta questões cruciais?».
Papa Francisco cita São Bento quando diz «recomendava aos abades consultar também os jovens antes de cada escolha importante, porque “muitas vezes é para os mais jovens que o Senhor revela a melhor solução”».
Não tive como refletir e estudar o quanto as comunidades jovens têm ajudado as comunidades religiosas a se reformarem para viverem com coerência o Evangelho, mas seria um ponto de reflexão muito interessante e importante. Normalmente se vê a composição das comunidades cristãs a partir dos padres, dos pastores frente aos fieis, mas nunca ao contrario. O valor do guia, o ministério do pastor, é sempre importante, mas provavelmente uma leitura mais a fundo seria importante e necessária.
2. Todos nós recebemos do Espirito Santo algumas “cartas” para jogar: há uma responsabilidade recíproca, de todos, em jogar bem estas cartas.
Eu tentarei contar um pouco como … O voluntariado pode ajudar a reformar o reformador. Para mostrar isso a vocês, tentarei manter em mente o que podemos ler no início e na metade do capítulo 18:
«Quando você perceber, pelos sinais expostos no capítulo anterior, que os bons costumes estão decaindo e a tibieza ganhando cada vez mais espaço, levante os seus olhos para enxergar a honra de Deus e o zelo pelo próximo e veja de que modo será possível reerguer os bons costumes…
E não se esqueça de que seria inútil pretender reformar os costumes sem o socorro da graça divina, a qual, porém, foi garantida que permanecerá conosco até o fim dos séculos (Mt.28,20).
Hoje, você vê que tudo está prosperando bem: não se alegre. Amanhã, verá tudo voltar-se contra você: não fique triste, mas siga a sua viagem com constância, que você chegará ao fim. Os corações volúveis desagradam muito a Deus, porque foram gerados e nasceram da infidelidade».
Hoje na Europa, nas Filipinas e no Brasil parece que os bons costumes não estão em alta, parece que a violência, a intolerância, o medo, a indiferença política estão em baixa. Todos falam sobre a reforma, mas ninguém é capaz de colocá-la em prática.
Frente a esta fadiga de encontrar um bom presente e um melhor futuro, o nosso SAMZ oferece aos seus “seguidores” uma virtude muito grande para alcançar a reforma.
3. Corram como loucos para Deus e para o próximo.
Esta afirmação é a sintese de uma preocupação de SAMZ no ser fiel a Deus e, em consequência, fiel ao homem, não só do ponto de vista espiritual, mas também da testemunha desta fidelidade que se traduz na caridade.
Não se pode afirmar que temos sempre a Graça de Deus conosco se não buscamos continuamente a Deus e ao próximo.
Não podemos procurar reflexões sobre voluntariado nos escritos de SAMZ, mas o seu modo de conceber a vida cristã, de compartilhar com os seus colaboradores (barnabitas, angélicas, leigos/casados) de vivê-la e propô-la ele nos oferece em algumas linhas:
– o fato de estar neste ambiente zaccariano não é um mero acaso, existem algumas indicações de SAMZ que podem nos dizer muito:
– SAMZ não queria que as despensas das comunidades ao final do mês ainda estivessem cheias de alimento, mas, se estivessem, estes deveriam ser compartilhados com os mais pobres;
– além disso, nos convida a ver a Eucaristia com amor, com paixão, com intimidade: não um olhar apenas, mas entrar em um relação, assim como Deus, que nessa Eucaristia entra em comunhão com nos humanos; do mesmo modo, se Deus entra em comunhão com nosso, nós somos chamados a entrar em comunhão com os que nos são confiados. Frente à Eucaristia ou com a Eucaristia? Frente aos outros ou com os outros?
– Provavelmente SAMZ não quis atingir apenas a despensa material (embora algumas perguntas sobre nossas geladeiras ou sobre nossos consumos devam ser feitas), mas também a despensa das nossas riquezas humanas quando temos muito só para nós, mas não dividimos.
– Talvez tenhamos um pouco de medo em estar diante da Eucaristia, provavelmente é uma ação que não fazemos muito, por muito tempo; não digo que vocês não ajudam os outros, mas que talvez não saibam ver os outros por aquilo que verdadeiramente são: pessoas feitas à imagem e semelhança de Deus, não das nossas necessidades de nos sobressair sobre os outros.
Dividir a nossa despensa e parar diante à Eucaristia nos leva a entrar diretamente no tema que mais nos interessa.
4. O economista Luigino Bruni escreveu: «o voluntariado que eu mais amo é aquele em que o voluntário se sente dentro de um relacionamento, não com um “simples” altruísta».
O voluntário não é apenas as coisas que ele pode oferecer, mas antes de tudo faz parte de um relacionamento de reciprocidade: «é esta a categoria que distingue o voluntariado católico». A reciprocidade é o próprio modo de ser de Deus que o Pai, o Filho e o Espirito Santo, assim como a Eucaristia (diria o nosso SAMZ) nos revela, porque a Eucaristia é o sacramento da reciprocidade entre Deus e nós.
O voluntariado é como o sal na sociedade, pois dá sabor às relações. Não se trabalha apenas porque é bonito ou porque faz bem, mas especialmente para receber. Não se pode ser feliz sozinho. O voluntário, na verdade, é o primeiro pobre, porque experimenta que a pobreza é uma condição existencial da vida, não é a falta dos bens, mas um saber que se depende dos outros. A pobreza é condição humana, não uma categoria de pessoas. Eu penso, portanto, que o voluntariado deva ser intenso como reciprocidade, como a oferta de um relacionamento: um dar e um ter gratuito, como gratuita é a Eucaristia que recebemos!
Não é talvez a Eucaristia a fonta da Graça Divina sem a qual não se pode viver?
5. É preciso, portanto, reler a experiência do voluntariado, não só como uma oferta de serviço de bens, mas como oferta de comunidades diferentes e de relacionamentos novos: não é “o que faço” mas “como vivo”.
As duas ou três horas do meu voluntariado são como a ponta do iceberg, devem esconder um estilo de vida. Quantas vezes repeti isso aos nossos jovens italianos: um estilo de vida. Como a globalização construiu uma contração do tempo e do espaço, do mesmo modo e ainda mais o voluntariado cristão deveria oferecer um aumento da reciprocidade, da gratuidade, da fraternidade.
A minha ideia de voluntariado é uma ideia antropológica, ou seja, um modo de conceber a existência como dom, não como altruísmo. A vida funciona quando você se ocupa dos outros e não funciona quando pensa sobre si próprio. O voluntário mostra isso, pois tem esse papel de sentinela, isto é, de mostrar aquilo que é de todos. O voluntariado é bom. Muita gente continua dizendo que é preciso mudar o mundo, mas se não há os pobres nem periferia, o mundo não poderá nunca mudar. As grandes mudanças no mundo ocorreram quando estávamos do lado do desconhecido, disse papa Francisco: Belém, a menor e mais desconhecida das cidades de Judá …
6. Mas não basta o bem em si, também é necessario ter presente o belo e o verdadeiro. Me explico. Típico do voluntariado verdadeiro é atribuir um valor intrinseco às coisas. Um voluntário que entende a dignidade das coisas é atento à beleza. Não se pode ser especialista do bom sem ser também do belo e do verdadeiro, porque os 3 não funcionam separados. O belo não é só a estética, o rolex ou a Gucci que podemos adquirir… o belo é aquilo que nos permite entrar no coração das coisas.
Não queria dizer uma loucura, mas quando o nosso SAMZ notou que a Euscaristia ficava jogada nos armários das sacristias, se apressou em tirá-la fora para expô-la entre a beleza das velas, dos hinos e dos cantos… a beleza no ser e o fazer as coisas é importante!
(Uma pergunta: As diversas carinhas que usamos para conversar, os emoticons, seriam talvez um sinal da beleza de hoje?)
7. Mas o voluntariado cristão também nos chama a uma outra palavra muito importante, além de muito bonita e um pouco negligenciada: fraternidade.
Fraternidade hoje siginifica reconhecer que estamos ligados a um relacionamento e, portanto, que os bens comuns estão à custa da fraternidade. A fraternidade, sendo um laço, é ambivalente e vunerável; algo que não acontece com a solidariedade.
A fraternidade é sempre experiência de vulnerabilidade, de fragilidade compartilhada e de abraço. Portanto, é essencial para a beleza do viver, porque te dá a dimensão do corpo e do limite do outro. Por isso, o voluntariado tem muito a ver com a fraternidade e menos com o ser solidário: sem fraternidade não há alegria, não há comunidade, mas indivíduos. Assim, não há felicidade.
A fraternidade é importante, porque oposta à fraternidade não há apenas a indiferença, mas também o fratricídio (morte dos irmãos). A fraternidade não é uma simples doação pelo telefone, mas envolve sempre uma relação com o outro, as suas ambivalências, o risco da ferida e da traição. Tudo aquilo siginifica que o relacionamento verdadeiro é sempre aberto à possibilidade da tragédia, senao não é um relacionamento verdadeiro, mas um hobby.
Fraternidade significa olhar para o outro além do seu esqueleto, siginifica entrar nele, reconhecer o seu coração, a sua tragédia.
8. Enfim.
Devemos ter atenção a um grande perigo: fazer do voluntariado um hobby entre tantos é esquecer o profissionalismo.
A questão do tempo não é problema maior, uma hora vivida bem é sem dúvida melhor que tantas vividas mal; uma hora dedicada bem entre as atividades que tenho que realizar ou entre as que a minha vida me pede é com certeza de grande valor.
A questão da “profissionalismo” é talvez um problema sério, hoje mais que ontem. Preisamos fazer bem aquilo que queremos fazer, da venda das tortas ao campo de trabalho em Milot ou em Miguel Pereira ou… as associações laicas atuam com muito profissionalismo e, embora lhes faltem uma alma, parecem vencedores. Muitas vezes temos uma alma, mas como não há um profissionalismo, ela se perde. Um profissionalismo feito de preparação, de trabalho, de retorno!
Hoje precisamos de jovens que nos levem a um maior profissionalismo. Um voluntariado vivido bem pode ajudar a nós, religiosos e padres, a sermos mais atentos no modo como levar vocês á alegria de Jesus.
Às vezes, vejo nas Igrejas padres que continuam a trabalhar como se fazia antes. Mas, enquanto vocês jovens andarem por outras estradas, procurem outras experiências de fé: falta uma reforma pedagógica, uma missão pedagógica capaz de entrar na alma de tantas pessoas que estão à sua volta. O problema da secularização é um problema no mundo, mas muitas vezes continuamos a trabalhar como sempre!
9. Um especialista da vida religiosa sobre a situação das mudanças que estamos vivendo dizia:
«geralmente se fala sobre 5 mecanismos para afrontar qualquer tipo de transição – resistir, permanecer de fora, distanciar-se, liquidar e colocar-se em atividade. Resistir = refutar aquilo que é novo se apoidando naquilo que já existe. Permanecer de fora = esconder-se no bunker, negar a novidade se escondendo no passado. Distanciar-se = fugir daquilo que é novo, saindo da novidade. Liquidar = jogar a toalha e admitir a derrota. Colocar-se em atividade = empenhar—se na novidade e responder com criatividade>>.
Mesmo com palavras diferentes, parece que estamos lendo alguns pensamentos do nosso Antonio Maria.
Quero concluir dizendo que o reformador, o jovem reformador é aquele que ajuda a Igreja a caminhar na reforma contínua.
Quando estavam em Cracóvia, disseram ao papa que não queriam estar deitados no sofá: sair do sofá não significa apenas andar daqui ou dali, mas procurar, experimentar, viver formas renovadas de pastoral, pedir aos pastores maior atenção ao mundo que muda.
Quando estavam no início do caminho, os barnabitas estavam vivendo uma situação realmente dramática, quando apareceu à sua porta um jovem de nome Alessando Sauli. Vocês devem saber que os padres não queriam acolhê-lo, mas a sua insistência venceu a resistência dos primeiros barnabitas. A sua paixão pelo espírito da reforma que havia nesses 4 ou 5 barnabitas, levou-no a apaixonar-se pela causa do Cristo Crucificado como Antônio M. havia apresentado. A sua paixão por Cristo o levou a apaixonar-se pela periferia daquela época (a Córsega) e pela força dessas periferias, elas se transformaram em testemunhas da reforma delas mesmas e da Igreja.
S. Alessando Sauli era jovem, muito jovem. Peçamos a sua intercessão para que nos ajude a nos apaixonar e apaixonar pela reforma de nós mesmos e da Igreja.
«Irmãos, procuramos mostrar a vocês essas poucas coisas: as quais – se vocês as seguirem, irão realizar com as próprias mãos – esperamos que possam vos conduzir à perfeição, fazendo-vos acima de tudo fugirem da tibieza:
– em louvor e honra a Jesus Cristo, O qual morreu em terra e reina vivo no Céu.
Amém».

Obrigado pela tradução para Pedro H.L e Bruno G.
p. Giannicola M. Simone
Copacabana 09 de setembro de 2017
#Enjuz2017